domingo, 27 de novembro de 2011

ILÊ


Ilê portas abertas

adura
O Ilê deve ser um espaço de cooperação e partilha. É importante que as pessoas dentro da casa sintam que as suas opiniões e ideias têm alguma importância para a comunidade. Se é verdade que duas cabeças pensam melhor do que uma, então um Ilê devia ser o melhor exemplo disso mesmo. Sacerdotes e sacerdotisas intelectualmente reconhecem que é assim, mas pode ser um pouco mais difícil de aceitar na prática.
Uma das coisas que mais frequentemente se ouve da boca de Pais e Mães de Santo é que eles aceitam opiniões diferentes de pessoas tanto de dentro como de fora da casa. Mas, se isto tem de ser dito tantas vezes, é porque provavelmente não é muito verdade. Frequentemente um Ilê é gerido por um personagem tipo. Uma personalidade que dá pouco valor à opinião de pessoas que são tidas como menos importantes ou com menos status. Assim, para apagar a imagem da realidade em que a opinião das pessoas em geral não é importante, a gerência promove o ideal de uma politica de portas abertas. Talvez fosse tempo de se darem conta da contradição que isto implica.
A filosofia deste modelo de gestão do Ilê manifesta-se como um Ilê em constante convulsão. Alguns membros reconhecerão o facto de que em muitos aspectos eles não são verdadeiros membros do Ilê ou família, mas meras extensões da vontade da gerência. Em consequência, a experiência de pertencer àquele Ilê passará por um estado de constante mudança das pessoas que se sentem insatisfeitas com o “acordo espiritual” que lhes foi atribuído e que mais parece um “acordo comercial”. O seu papel enquanto membros permanecerá uma fracção daquilo que devia ou podia ser.
Mas também conheço casas que operam como uma comunidade de iguais, com pouca hierarquia entre os membros, independentemente do tempo que aquelas pessoas estão já no Ilê, o tempo de iniciados, potencialidades especiais de alguns membros, talentos naturais, ou qualquer outro factor que possa ser usado para separar as pessoas que têm um objectivo comum. A gestão deste modelo de Ilê não cria a necessidade de ter uma politica de portas abertas porque os membros já sabem à partida que as suas opiniões, ideias, e o que eles são como pessoas têm valor e são respeitados. As pessoas sentem-se livres para se expressarem sem a ameaça de sanções, pontos de ordem e outras coisas do género. Os responsáveis por este tipo de Ilê também não receiam perder o controle das pessoas uma vez que o seu objectivo não inclui controlar as pessoas.
A filosofia deste tipo de gestão do Ilê dará lugar a um ambiente em que as pessoas se sentirão bem vindas e respeitadas. Porquanto ter um vasto número de membros não deverá ser um objectivo importante numa casa, os membros deste tipo de casa em especial, com maior probabilidade serão unidos e fortes e permanecerão unidos e fortes.
Como estudantes de Ifá, é do nosso entendimento que Olodumaré é o ser espiritual supremo. Mas quando eu imagino o céu, não vejo Olodumaré sentado num trono, relaxando e sentindo-se superior aos Orixás e ancestrais. Quando estas entidades se reúnem, duvido seriamente que os Orixás passem o seu tempo a enaltecer o ego de Olodumaré e sublinhando a sua devoção. Duvido que os Orixás passem o seu tempo a competir entre eles para determinar a sua posição na ordem hierárquica. Ainda alguém terá de me explicar quais são os Orixás que estão em último lugar na linha de comando. Duvido que alguém me consiga explicar qual das manifestações da natureza é a menos importante ou valiosa. Todos os Orixás têm um trabalho a fazer e todos eles se unem para o levar a cabo. Esta é a comunidade dos Orixás. Isto é espiritualidade. Assim como é no céu devia ser cá em baixo.
Devemos recordar que o ambiente social de um Ilê é directamente indicativo da condição da sua espiritualidade. Obrigar pessoas a submeterem-se às vontades de um, pode parecer um poder atractivo. Mas, a espiritualidade não trata de exercer controlo, superioridade e separação de pessoas que deviam ser reconhecidas como iguais no grande plano das coisas. Não há nada de espiritual num Ilê que pratica a supressão de membros. Pessoas que se unem para o bem da comunidade e da espiritualidade não deviam sentir-se intimidadas por outros membros que até são a cabeça da casa, iniciados mais velhos, ou qualquer outra pessoa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário